É o parque em inverno de muitos verdes.
De pipoca, algodão doce, catavento.
Estamos envoltos em lã,
Alguém toca realejo.
Vemos que o moço de chapéu-coco senta-se a um canto,
A outro, a moça de saia de pregas.
Ignoram-se.
Ambos escondem cinzas,
Poucas,
No coque e sob o chapéu,
Têm o rosto cansado, mas sereno.
E sabemos que o moço,
matemático, perdeu a mulher pra cantor ( de boleros).
As vezes, chora.
Não tem vícios.
Gosta de carrosséis, a noite.
Cultiva cravos.
A moça, nunca arranjou marido.
É enfermeira ( mas quis ser trapezista).
Quer filha pra chamar de Alice,
Sente frio.
Se o moço visse a moça,
Se a moça visse o moço,
Haveria comoção, queda de amores.
Piscariam os olhos tépidos.
O moço daria à moça o cravo em sua lapela,
seu negríssimo sobretudo.
mentira - que é muito poeta, tocador de acordeão.
A moça estenderia a mão com a luva,
Tentaria sorriso nunca usado.
Saberiam, ambos.
Dar-se-iam o medo de que o outro morresse, fugisse.
O acender de luzes para ver se o outro tem um corpo,
E dorme.
Se vissem!!
Se apenas, vissem...
Ela seria Mafalda,
Ele, Armando, de sobrenome mesmo.
Assinariam papéis.
Na boda, Mafalda usaria lilás.
já tão cheia de Armando, de Alice:
Alice seria frágil, de doçura tanta...
Teimaria em andar descalça,
( menina, nesse chão gelado!),
Enquanto a mãe lhe tricotasse longas meias,
E para o pai uma cachecol vermelho.
Se, apenas, se,
Iriam ao circo, andariam de carrossel, à noite.
Alice sorrindo, sem os dentes da frente.
Seriam três, por aí, tão juntos.
( Cuidado com vento, os carros, o sangue, os insetos).
Seriam três,
E a certeza de um beijo.
Se o quisessem,
E não, respirar sozinhos.
Mais eis que chega a hora de partirmos.
É cada vez mais tarde.
O moço, que tinha nas mãos o chapéu-coco, devolve-o à cabeça.
A moça, ajusta a saia de pregas.
Levantam-se.
E caminham, os dois, para ruas opostas,
Na direção de prédios muito altos.
Ah, oss desencontros...
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